domingo, 11 de setembro de 2016

Setembro, Onze

(911)

911 Memorial. NY. cppp foto.

...
...
...
Um espaço vazio
Um imenso buraco
Uma falta profunda
Que não alcança o fim
Apenas estabelece a procura


Um poço de águas
Que apenas recebe
A água que infinitamente escoa
O mar de lágrimas que restou
E toda mágoa que emplodiu...
E não ecoa nenhum alívio
Não ressoa nenhuma cura


Um imenso vazio
Um luto infinito e escuro
De cada coração que ficou na tortura
De cada vida que se perdeu na loucura
De cada alma que foi demolida
E da liberdade enternamente banida
De toda a esperança exaurida

Uma caixa sem fundo
Cheia de memórias sufocantes
Sem trazer uma explicação coerente
Sem devolver a paz outrora existente
Explodindo perguntas que não se calam
Naqueles que ficaram a juntar os cacos
Perdidos numa dor excruciante

Um espaço vazio
Um imenso buraco
Uma dor profunda
A seguir infinita
Na memória do mundo

(cppp 11/09/2016)

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Mausoléo

Vim assoprar a poeira...
Mas resolvi rabiscar com o dedo
Nesta lápide virtual
Qualquer palavra, encantada
Que crie asas...
E voe nesta sala vazia
Fazendo eco neste espaço oco
Quem sabe não traga de volta
Os que aqui nunca estiveram...
Alguém? Hei!!! Grito fazendo zueira
Num acinte de rebeldia
Poetas?? Vivos ?!?!
Pergunto com ironia
Quero perturbar, incomodar mesmo
Ressuscitar de qualquer maneira
A poesia que pereceu
E cada poeta que desfaleceu
E se entregou à conveniente letargia.

(cppp 16/12/2015)

sábado, 26 de setembro de 2015

Saudade, Vai Entender...

Saudade do 'cês'
Vai explicar...
Gente que não conheço
Gente que nunca vi
Com exceção de dois ou três

Saudade que sinto
Ao menos pelo apreço
De partilharmos
Um gosto, algo em comum
De modo tão distinto

Saudade, como não?
Vai entender...
Mas talvez isto é tudo
Tudo que nos baste
Para explicar ao coração

Que fomos feitos
Para compartilhar
Para dividir a emoção
Mesmo que sejamos
Assim, não tão afeitos

(cppp - 26/09/2015)

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Vício

É aquele mania, aquela porcaria, aquela substância ou comportamento, até aquela droga de pensamento que domina a razão e a necessidade, que não te deixa passar vontade, que urge a qualquer custo a pronta saciedade.
E não importa se te faz aceito socialmente ou se te põe em voluntário banimento, largado num bueiro ou às escondidas num banheiro, num beco ou num quarto escuro e nojento.
Também tanto faz o motivo que você mascare e que te faz cativo... Se é por libertação sociocultural, para ser o tal, ou apenas reação à este tedioso, insustentável e claustrofóbico vazio existêncial.
Vício é a repetição sem trégua, sem clemência, sem inteligência, mas tão inevitável; tão detestável, mas tão irresistível; tão destrutiva, mas tão doce...
É mentir pra si o controle e o problema, com a desculpa esfarrapada "só por mais esta última vez". É essa idiotice que só te destrói a saúde, os sonhos, a crença, o futuro, a vida! Mas que você escolhe mesmo assim; mesmo! Até o fim...
Vício, é buscar o céu usando o inferno, sabendo que a viagem já se perdeu no começo do caminho.
É a peçonha, não só do benzeno, mas do ódio, do ressentimento, da falta de paciência e de compaixão que te faz vomitar toda esta tua bruta carência, exigindo a satisfação imediata de toda tua imatura insuficiência, intoxicando todo e qualquer relacionamento.
É aquele bagulho, aquela bagagem cheia de entulho, que na verdade não serve mais pra nada e que pesa uma tonelada, mas que você carrega, as vezes, pela vida; ...cheio de marcas doloridas, mas que você justifica, mentindo uma sensação colorida.
Vício... seria bom não tê-los, mas então, como sabê-los? E cada qual com seu cada um. Conversa de doido? Sei lá, talvez.  Afinal, não me leve a mal, mas não há um neste mundo com total lucidez. Então... tá ligado? Se envenena o corpo ou tão somente o pensamento, apenas admita sem grilo, sem ser fajuto e sem bancar o careta, que todos temos, nesta vida, a porcaria de pelo menos um: vício!

(cppp - 06/09/2015)


quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Saíndo de Cena

Diferentes...
Que bom, somos.
Eu, pelo menos
acho bom.
Interessante
entretando
fomos feitos 
para os pares.
Em algum momento
precisamos
nos ver similares.
Não é sempre
mas há de se ouvir
algum eco...
Ter algum respaldo
um elogio que
massageie o ego.
Senão, entender e
admitir sem agravo:
não bateu, não deu...
Nem tudo é 
na mesma intensidade
para todos.
Há de se entender
as diferenças...
Sem se desfazer
das semelhanças.
Sem se prender 
as expectativas.
Sem se ofender
com as prerrogativas.
As vezes a grandeza
está em retrair
simplesmente sorrir
e sair de cena.

(cppp - 02/09/2015)

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Canção da América

de Milton Nascimento e
Fernando Brant que fez a versão em português


Amigo é coisa pra se guardar
Debaixo de sete chaves,
Dentro do coração,
assim falava a canção que na América ouvi,
mas quem cantava chorou ao ver o seu amigo partir,
mas quem ficou, no pensamento voou,
com seu canto que o outro lembrou
E quem voou no pensamento ficou,
com a lembrança que o outro cantou.
Amigo é coisa para se guardar
No lado esquerdo do peito,
mesmo que o tempo e a distância, digam não,
mesmo esquecendo a canção.
O que importa é ouvir a voz que vem do coração.
Pois, seja o que vier,
venha o que vier
Qualquer dia amigo eu volto a te encontrar
Qualquer dia amigo, a gente vai se encontrar.

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Só de Sacanagem

de Elisa Lucinda

Meu coração está aos pulos!

Quantas vezes minha esperança será posta à prova?
Por quantas provas terá ela que passar? Tudo isso que está aí no ar, malas, cuecas que voam entupidas de dinheiro, do meu, do nosso dinheiro que reservamos duramente para educar os meninos mais pobres que nós, para cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus pais, esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade e eu não posso mais. 
Quantas vezes, meu amigo, meu rapaz, minha confiança vai ser posta à prova?
Quantas vezes minha esperança vai esperar no cais?
É certo que tempos difíceis existem para aperfeiçoar o aprendiz, mas não é certo que a mentira dos maus brasileiros venha quebrar no nosso nariz. 
Meu coração está no escuro, a luz é simples, regada ao conselho simples de meu pai, minha mãe, minha avó e os justos que os precederam: "Não roubarás", "Devolva o lápis do coleguinha", "Esse apontador não é seu, minha filha". Ao invés disso, tanta coisa nojenta e torpe tenho tido que escutar. 
Até hábeas corpus preventivo, coisa da qual nunca tinha visto falar e sobre a qual minha pobre lógica ainda insiste: esse é o tipo de benefício que só ao culpado interessará. Pois bem, se mexeram comigo, com a velha e fiel fé do meu povo sofrido, então agora eu vou sacanear: mais honesta ainda vou ficar. 
Só de sacanagem! Dirão: "Deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todo mundo rouba" e vou dizer: "Não importa, será esse o meu carnaval, vou confiar mais e outra vez. Eu, meu irmão, meu filho e meus amigos, vamos pagar limpo a quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês. Com o tempo a gente consegue ser livre, ético e o escambau." 
Dirão: "É inútil, todo o mundo aqui é corrupto, desde o primeiro homem que veio de Portugal". Eu direi: Não admito, minha esperança é imortal.
Eu repito, ouviram? Imortal! Sei que não dá para mudar o começo mas, se a gente quiser, vai dar para mudar o final!