sábado, 26 de setembro de 2015

Saudade, Vai Entender...

Saudade do 'cês'
Vai explicar...
Gente que não conheço
Gente que nunca vi
Com exceção de dois ou três

Saudade que sinto
Ao menos pelo apreço
De partilharmos
Um gosto, algo em comum
De modo tão distinto

Saudade, como não?
Vai entender...
Mas talvez isto é tudo
Tudo que nos baste
Para explicar ao coração

Que fomos feitos
Para compartilhar
Para dividir a emoção
Mesmo que sejamos
Assim, não tão afeitos

(cppp - 26/09/2015)

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Vício

É aquele mania, aquela porcaria, aquela substância ou comportamento, até aquela droga de pensamento que domina a razão e a necessidade, que não te deixa passar vontade, que urge a qualquer custo a pronta saciedade.
E não importa se te faz aceito socialmente ou se te põe em voluntário banimento, largado num bueiro ou às escondidas num banheiro, num beco ou num quarto escuro e nojento.
Também tanto faz o motivo que você mascare e que te faz cativo... Se é por libertação sociocultural, para ser o tal, ou apenas reação à este tedioso, insustentável e claustrofóbico vazio existêncial.
Vício é a repetição sem trégua, sem clemência, sem inteligência, mas tão inevitável; tão detestável, mas tão irresistível; tão destrutiva, mas tão doce...
É mentir pra si o controle e o problema, com a desculpa esfarrapada "só por mais esta última vez". É essa idiotice que só te destrói a saúde, os sonhos, a crença, o futuro, a vida! Mas que você escolhe mesmo assim; mesmo! Até o fim...
Vício, é buscar o céu usando o inferno, sabendo que a viagem já se perdeu no começo do caminho.
É a peçonha, não só do benzeno, mas do ódio, do ressentimento, da falta de paciência e de compaixão que te faz vomitar toda esta tua bruta carência, exigindo a satisfação imediata de toda tua imatura insuficiência, intoxicando todo e qualquer relacionamento.
É aquele bagulho, aquela bagagem cheia de entulho, que na verdade não serve mais pra nada e que pesa uma tonelada, mas que você carrega, as vezes, pela vida; ...cheio de marcas doloridas, mas que você justifica, mentindo uma sensação colorida.
Vício... seria bom não tê-los, mas então, como sabê-los? E cada qual com seu cada um. Conversa de doido? Sei lá, talvez.  Afinal, não me leve a mal, mas não há um neste mundo com total lucidez. Então... tá ligado? Se envenena o corpo ou tão somente o pensamento, apenas admita sem grilo, sem ser fajuto e sem bancar o careta, que todos temos, nesta vida, a porcaria de pelo menos um: vício!

(cppp - 06/09/2015)


quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Saíndo de Cena

Diferentes...
Que bom, somos.
Eu, pelo menos
acho bom.
Interessante
entretando
fomos feitos 
para os pares.
Em algum momento
precisamos
nos ver similares.
Não é sempre
mas há de se ouvir
algum eco...
Ter algum respaldo
um elogio que
massageie o ego.
Senão, entender e
admitir sem agravo:
não bateu, não deu...
Nem tudo é 
na mesma intensidade
para todos.
Há de se entender
as diferenças...
Sem se desfazer
das semelhanças.
Sem se prender 
as expectativas.
Sem se ofender
com as prerrogativas.
As vezes a grandeza
está em retrair
simplesmente sorrir
e sair de cena.

(cppp - 02/09/2015)

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Canção da América

de Milton Nascimento e
Fernando Brant que fez a versão em português


Amigo é coisa pra se guardar
Debaixo de sete chaves,
Dentro do coração,
assim falava a canção que na América ouvi,
mas quem cantava chorou ao ver o seu amigo partir,
mas quem ficou, no pensamento voou,
com seu canto que o outro lembrou
E quem voou no pensamento ficou,
com a lembrança que o outro cantou.
Amigo é coisa para se guardar
No lado esquerdo do peito,
mesmo que o tempo e a distância, digam não,
mesmo esquecendo a canção.
O que importa é ouvir a voz que vem do coração.
Pois, seja o que vier,
venha o que vier
Qualquer dia amigo eu volto a te encontrar
Qualquer dia amigo, a gente vai se encontrar.

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Só de Sacanagem

de Elisa Lucinda

Meu coração está aos pulos!

Quantas vezes minha esperança será posta à prova?
Por quantas provas terá ela que passar? Tudo isso que está aí no ar, malas, cuecas que voam entupidas de dinheiro, do meu, do nosso dinheiro que reservamos duramente para educar os meninos mais pobres que nós, para cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus pais, esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade e eu não posso mais. 
Quantas vezes, meu amigo, meu rapaz, minha confiança vai ser posta à prova?
Quantas vezes minha esperança vai esperar no cais?
É certo que tempos difíceis existem para aperfeiçoar o aprendiz, mas não é certo que a mentira dos maus brasileiros venha quebrar no nosso nariz. 
Meu coração está no escuro, a luz é simples, regada ao conselho simples de meu pai, minha mãe, minha avó e os justos que os precederam: "Não roubarás", "Devolva o lápis do coleguinha", "Esse apontador não é seu, minha filha". Ao invés disso, tanta coisa nojenta e torpe tenho tido que escutar. 
Até hábeas corpus preventivo, coisa da qual nunca tinha visto falar e sobre a qual minha pobre lógica ainda insiste: esse é o tipo de benefício que só ao culpado interessará. Pois bem, se mexeram comigo, com a velha e fiel fé do meu povo sofrido, então agora eu vou sacanear: mais honesta ainda vou ficar. 
Só de sacanagem! Dirão: "Deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todo mundo rouba" e vou dizer: "Não importa, será esse o meu carnaval, vou confiar mais e outra vez. Eu, meu irmão, meu filho e meus amigos, vamos pagar limpo a quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês. Com o tempo a gente consegue ser livre, ético e o escambau." 
Dirão: "É inútil, todo o mundo aqui é corrupto, desde o primeiro homem que veio de Portugal". Eu direi: Não admito, minha esperança é imortal.
Eu repito, ouviram? Imortal! Sei que não dá para mudar o começo mas, se a gente quiser, vai dar para mudar o final!

domingo, 13 de setembro de 2015

Desculpas...

Não sei se sei falar de amor
Mas... talvez o que não sei é
Como desvincular isto da dor

Também não sei falar disto
De forma frívola e superficial
Acredito é algo denso e especial

Não sei se mereço tal proeza
Amor é um princípio muito nobre
E meu altruísmo ainda é muito pobre

Também, perdoe-me meu deslize
Porque acredito, amor não é objeto
Então, não é apenas isto, ou disto

Amor é mais que paixão de momento
É um íntimo e dedicado relacionamento
Que começa e refina primeiro a mim

Para que eu possa sempre ter você
Suas prioridades e sua felicidade
Em primeiro e não depois ou no fim

(cppp - 30/08/2015)

sábado, 12 de setembro de 2015

Tocando em Frente

de Almir Sater e Renato Teixeira

Ando devagar
Porque já tive pressa
E levo esse sorriso
Porque já chorei demais
Hoje me sinto mais forte
Mais feliz, quem sabe
Só levo a certeza
De que muito pouco sei
Ou nada sei

Conhecer as manhas
E as manhãs
O sabor das massas
E das maçãs
É preciso amor
Pra poder pulsar
É preciso paz pra poder sorrir
É preciso a chuva para florir

Penso que cumprir a vida
Seja simplesmente
Compreender a marcha
E ir tocando em frente
Como um velho boiadeiro
Levando a boiada
Eu vou tocando os dias
Pela longa estrada, eu vou
Estrada eu sou

Conhecer as manhas
E as manhãs
O sabor das massas
E das maçãs
É preciso amor
Pra poder pulsar
É preciso paz pra poder sorrir
É preciso a chuva para florir

Todo mundo ama um dia
Todo mundo chora
Um dia a gente chega
E no outro vai embora
Cada um de nós compõe a sua história
Cada ser em si
Carrega o dom de ser capaz
E ser feliz

Conhecer as manhas
E as manhãs
O sabor das massas
E das maçãs
É preciso amor
Pra poder pulsar
É preciso paz pra poder sorrir
É preciso a chuva para florir

Ando devagar
Porque já tive pressa
E levo esse sorriso
Porque já chorei demais
Cada um de nós compõe a sua história
Cada ser em si
Carrega o dom de ser capaz
E ser feliz

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Calando de Amor

Falar de amor?
Talvez eu seja demais realista
Minha cabeça é de analista

Já tenho alguma vivência
E me rio desta pseudo inocência
De quem gosta de confundir

Paixão se declara e é colorida

Amor é dolorido e a alma cala

(cppp - 28/08/2015)

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Solidão

de Chico Buarque de Holanda 

Solidão não é a falta de gente para conversar, namorar, passear ou fazer sexo... 
Isto é carência!
Solidão não é o sentimento que experimentamos pela ausência de entes queridos que não podem mais voltar...
Isto é saudade!
Solidão não é o retiro voluntário que a gente se impõe, às vezes para realinhar os pensamentos... 
Isto é equilíbrio! 
Solidão não é o claustro involuntário que o destino nos impõe compulsoriamente... 
É um princípio da natureza!
Solidão não é o vazio de gente ao nosso lado... 
Isto e circunstância!
Solidão é muito mais do que isto... 
Solidão é quando nos perdemos de nós mesmos e procuramos em vão pela nossa alma. 

Delírio

de Olavo Bilac

Nua, mas para o amor não cabe o pejo
Na minha a sua boca eu comprimia.
E, em frêmitos carnais, ela dizia:
– Mais abaixo, meu bem, quero o teu beijo!

Na inconsciência bruta do meu desejo
Fremente, a minha boca obedecia,
E os seus seios, tão rígidos mordia,
Fazendo-a arrepiar em doce arpejo.

Em suspiros de gozos infinitos
Disse-me ela, ainda quase em grito:
– Mais abaixo, meu bem! – num frenesi.

No seu ventre pousei a minha boca,
– Mais abaixo, meu bem! – disse ela, louca,
Moralistas, perdoai! Obedeci...

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Confabulações

Cara, eu sou assim...
Sou intensa, vamo fazê, vamo acontecê,
Vamo por pra andá, vamo agitá,
Bora pra frente, é lá onde a vida tá!!
O que ou quem não quer, paciência
Há de se entender ou deixa pra lá!
É, me acompanhar não é fácil...
Mas se você puder, cola aí, e vêm.
Vem viver o que é possível.
Permita ao sonho ser factível.
Deixe o toque ser acessível.
Deixe o momento, neste instante,
acontecer e ser feliz, ainda que seja
num detalhe ou por um triz.
Pára de querer resolver o que já foi,
Pára de arrastar este passado e vem.
Liberte o hoje para acontecer
E permita-se a intensidade de viver.
Mas... Se não puder chegar,
Não for possível me acompanhar,
Aos menos me siga com teu carinho
E mesmo a distância, torça por mim.
Quem sabe o nosso caminho
Ainda não se cruza no fim...

(A linguagem bem coloquial foi a propósito. cppp - 26/08/2015)


domingo, 6 de setembro de 2015

Viúva Negra

Eu sou uma fera
Ou um furacão
Ares de leõa
Meio camaleõa
Posso ser teu inferno
Ou um amor de pessoa

Sou seu docinho
Ou seu benzinho
Um anjo do céu
Dos lábios de mel
Ou destilar veneno
Servido com fel

Posso te ser tudo
Sem querer nada
Te torturar silente
Te devorar calada
Seduzir-te inclemente
Sem ficar culpada

Sou abusada
Meio tarada
Sou teu sonho
Ou teu pesadelo
Tudo depende
Se és só meu
Em total desvelo

(cppp - 24/08/2015)


sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Farsa Poética

Um poema,
As vezes expõe o que a alma sente
Mas por vezes apenas mente
E por que mentiria?
Para fugir da intensidade
Para tentar calar uma verdade
Reprimindo a realidade...
Ou apenas para fazer de conta
Para preencher uma falta
Para fingir o que não se tem
Pelo menos num mísero segundo
Sentir a emoção de algum bem...
E talvez minta apenas por reação
Esquivando-se do medo da rejeição
O poeta,
As vezes expõe seu coração
Mas por vezes apenas as dissimulações da mente

(cppp - 23/08/2015)

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Fuga Inútil

Cadê você...
Por que me deixa assim a espera?
Por que não me livra do castigo,
De contar os minutos de tua ausência?

Cadê você...
Cuja a saudade me é tão severa,
Deixando meu coração sem abrigo,
À mercê de toda esta minha carência.

Ah, porque me torturas assim?
Cada segundo longe de ti é infinito,
Privando-me do que mais necessito.

Por favor não fujas mais de mim...
Sei que me possuis em teu imaginário
E só em mim teu prazer não será solitário.

(cppp - 23/08/2015)

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Na Beira da Praia

Morar à beira da praia
É certamente privilégio
Ser vítima deste sortilégio
Que a natureza oferece
Numa infinita beleza
Orquestrada com destreza

Muito difícil encontrar
Espaço para a monotonia;
E definitivamente não há
Chance para a monocromia
Cada dia é único, é singular
Desde o amanhecer até o luar
E faz a gente se sentir especial

Como faz bem aos sentidos:
O cheiro da brisa do mar,
O som das ondas a quebrar,
A textura da areia nos pés
Mergulhar naquele azul abissal
E até aquele gosto de sal!

E mesmo num dia nublado
O mar se faz bem intrigante;
Mesmo ao simples observador,
Não apenas ao navegante.
Desafiando a decifrar na paisagem,
Entre céu e mar a miragem,
Quando brincam com espelhos.

Ah... e naquele horizonte sem fim
Deixar a mente voar, se perder,
Sonhar... sem se comprometer,
Apenas para reconhecer o prazer:
Ah que delícia, que revigorar...
Poder na beira da praia morar!

(cppp - 22/08/2015)

terça-feira, 1 de setembro de 2015

Outono

As folhas começam a cair
Sinalizando a mudança
Trazendo uma desconfiança
Talvez seja mesmo a hora
De cessar, de não mais resistir

Os ventos começam a soprar
Mais fortes, mais insistentes
Derrubando as mais resistentes
Das folhas, dos argumentos
Para que seja possível o recomeço

As cores ficam mais quentes
Mas é caprichosa dicotomia
Da natureza, verdadeira ironia
Pois tudo ao redor vai esfriando
Menos as esperanças das gentes

Mas toda esta transição
Não é feita de improviso
É processo de tempo preciso
Para que possamos assimilar
Que morrer é vital
Para possibilitar a renovação

(cppp - 19/08/2015)