segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Qual é a Tua Verdade?

Nem tu o sabes
Te iludíste pouco a pouco
Num lastro curto de tempo
Jogaste longe a oportunidade
E abraçaste a insensatez
De tua arrogância te cingiste
"Não tenho medo de nada!"
Dizias tu...
E na soberba de tal desatino, caíste
Sem perceber que não passas
De um pobre, cego e nu
Apegando-te as pobres significâncias
Da pálida sombra de tua existência
Qual um tolo te bastaste
Aos outros imputaste ignorância
E toda ajuda refutaste
Teu bom senso e sizo
Jazem enterrados!
E o tempo de reconstrução
Tão oportuno, de ti mesmo
De forma vil desprezaste
E agora como encontrar a si?
Como construir sob a influência
Diabólica, maléfica e pérfida
Da completa falta de honestidade
Da total ausência de sinceridade
Do reflexo puro de teu egoísmo??
Castelo de areia é o que projetas
Na crendice irracional e imatura
De que não deves satisfação a ninguém
Que de tua vida, Nada!, outros tem
Haurindo toda sabedoria em tal postura
E então...
O que sobrou na realidade?
Que a verdade em ti já não ecoa
De tanto te entremeares
Nas teias pegajosas da falsidade
Proferes mentiras de cara-lavada
Sem constranger a razão
E a ti mesmo afirmas:
Jamais percebidas serão!
Mas o que não te atentas
É que tua falsificada verdade
A todos jaz escancarada
Fazendo de ti um ente patético
Digno apenas de piedade...
Porque és o único que se engana
És uma vida de falsidades
Vivendo num roda-moinho fútil
De puro egoísmo e vaidade
E em tua relutância inútil
Um assinti a mais débil inteligência
Te prendes sem clemência
Com cadeias de pura infelicidade
Nesta última verdade:
És um mentiroso covarde,
Fugindo de tua própria identidade!
(11/2010)

Verdade Nua e Crua

Como lidar...
Com a diferença?
Tão antagônica,
Anacrônica,
Incoerente?!
Como dizer ao outro
O racional?
De sua irracionalidade latente,
De sua cognição preguiçosa,
De sua atitute idiota e poeril,
De sua ineficiência insipiente,
De sua contradição hipócrita,
De sua deselegância altissonante,
Infestada de palavras rotas
E movimentos vulgares
Carência vil a necessitar olhares!
Como falar o que não se diz?
Das suas porcarias,
Da suas porcas manias,
De toda sua imatura ironia,
De sua total falta de sabedoria;
Fruto de sua solidão de alma
Do vazio, oco, de seu pensamento,
De uma existência vazia,
De sua falsa alegria...
Como?? Como dizer com sensatez?
Como concaternar com a lucidez?
Quando o que se encontra é irreal...
São só máscaras!
Para o medo mórbido
Do confronto com a realidade,
Nua e crua de seu vazio existencial.
De toda uma vida fútil!!
Centrada apenas no momento presente,
Na satisfação própria e inconsequente
E no fazer do outro um objeto conveniente!

(23/11/2010)

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Rafaela

E a vida nos brindou
Com outra vida
De saúde, repleta
Trazendo alegria plena
Num sentimento perfeito
Que não se descreve
Com imperfeitas palavras
Apenas se vive o momento
Agradecido e Satisfeito

A cada esperança
A cada novo movimento
A cada boa lembrança
Descobrindo antigas semelhanças

A vida se faz pequena
Para permitir o recomeço
na felicidade de um nascimento
Para dar uma nova chance
ao nosso amadurecimento
Para escrever uma nova história
sem muitos arrependimentos
Para reciclar as possibilidades
do novo, do correto, do desenvolvimento

A cada novo som
A cada descobrimento
A cada interação
Deste mundinho em florecimento

A vida se mostra grande
Para diluir a dor recente
Para superar a subta diferença
Para resgatar a criatura ao Criador
Para nos ensinar o verdadeiro amor
Para gerar um encantamento
Inabalável, em nós, inexorável
Pela Vida!

(09/2010)

Coração Carioca

É bom estar de volta
E ter à volta a tua beleza
Que serpenteia veloz
Pela orla da Zona Sul
Em monolitos curvilíneos
De trejeitos femininos
Que adoçam o olhar da gente

É bom receber o teu abraço
E estar nos braços da civilização
De modernidades diversas
Da mistura do mundo
De gente descomplicada
De riso fácil e conversa farta
Cosmopolita e envolvente

Que bom reencontrar os trilhos
Das tuas trilhas naturais
Que insurgem audaciosas
Quebrando a monotonia concreta
Teimosia em tons de verde
Na paisagem metropolitana
Resgatando-nos do reboliço
Da insana violência urbana

(22-09-2010)

quarta-feira, 17 de março de 2010

Quietude

Quieta e calma a hora passa
Findam-se os períodos, silentes...
Desta minha sobrevivência monástica
Destes meus momentos ausentes...

Estou a contemplar serena
A esperança que brinca ao longe
Por entre pilastras da humana psiquê
Com o futuro, este que sempre me foge

Estou a observar tranquila
Dos artifícios cognitivos, os movimentos
Que se balançam e se arriscam
Entre as teias do racionalismo e dos sentimentos

Quieta e calma é a forma
Que desta vez adotei como norma
Para me rebelar contra a realidade
Contra a imposição das dificuldades
Da vida, da não comunicação, da saudade!

(16-03-2010)

terça-feira, 16 de março de 2010

Eu Lírico

O poeta é grande
de alma, ampla,
bem iluminada.

De luz, densa,
que em si só
não cabe, se dilata.

Sobeja na profusão
de Palavras
a formar versos.

Transborda em sentidos
nas significâncias
pelos avessos.

Expande o entendimento
da emoção, do momento,
nos limites do discurso da razão.

Retrata sua enormidade
de mente, de alma,
de cérebro, de coração.

Tudo é possível ao ser
de se querer, de se sofrer,
de se viver, de subverter.

Mas concordo sem vaidade
que do poeta, a realidade,
sua verdade triste
não é possível o resolver.

(16-03-2010)

Projeção

Não me diga como reagir
Não me limite ao teu egoísmo
Enquadrando-me em teu falso altruísmo
A velar um sínico sectarismo

Não me subtraia a intensidade
Das reações e emoções com que vivo
Com que me movo e me expresso
Porque te incomoda a minha liberdade

Não me esconda em teus temores
Querendo mensurar minhas dores
Com a régua inconsistente de tuas carências
Da não vivência de teus amores

Não me amarre em teu tempo
Do que é plausível ou não
Baseado em teorias e retórica
De quem não coexisti na ampulheta
De areias movediças a subverter a razão

Não me aprisione aos teus conceitos
De neófitos e pobres argumentos
Morejos imaturos de uma egocêntrica psiquê
Que esmorece ante a coragem da experiência
Ignorando as possibilidades da existência

Não me roube, das palavras, a pureza
Distorcendo-as em teus melíndres
Na escura timidez de teu obtuso mundo
De janelas mas sem portas, sem incerteza
Sem risco, sem ousadia, superfial, nada produndo!

(12-03-2010)

Madrasta

Má e drástica é a significância.
Aludindo a um conceito infâme,
Denotando todo o preconceito
Ressentido, de um coração egoísta
Astuto e inundado de sofismas.
Suspeitando de quem chega e
Torturado de ciúme por quem se foi,
Amarfanhando a vida de quem fica.

(15-03-2010)

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Marketing Digital

E de repente, você.
Me aparece offline
Com poucas palavras
Num mundo virtual

Se mostra curioso
Interage cuidadoso
Equilibrando minha displicência
Com sua inteligência digital

Me cativa a atenção
Me revela seu coração
Me surpreende no instante
Com uma admiração quase fatal

Num dia qualquer
Me oferta carinho
De forma simples e real
E me faz sentir única, especial.

(15-10-2009)

Palavras de Poeta

São Espelhos
São reflexos
da alma...
de momentos...

São caminhos
Circunspectos
revelando
os sentimentos

São o brinquedo
Do pensamento
invadido
por emoções

São janelas
Do inconsciente
solfejando
subversões

São viagens
Imaginárias
de possibilidades
perdulárias

São portas
Da consciência
experimentando
nuas referências

São objetos
Do desejo
De abstratos
lampejos

Sugerindo
uma verdade infinita
Transformando
a realidade em erudita!

(04-10-09)

Um dia Vazio...

Um amanhecer
sombrio
Um dia lento,
moribundo.
Horas arrastadas
em tom soturno.

Um não querer
Um não poder
Um não estar
Um não ser.

Só uma falta
de vontade
Só um doce
amargo
Só uma caixa
de saudade...

Sem presente
Sem mistério
Sem graça
Sem você...

Nada mais faz
sentido
Todos os elos foram
perdidos
Tudo, parece,
desmoronou.

Nenhuma expectativa
Nenhum sorriso
Nenhum cartão
Nenhum buquê

Só lágrimas
sofridas
A inundar
no calendário
O espaço vazio
do teu aniversário.

(02-10-09)

Um Amor Presente

Preciso de você comigo
Preciso te ter por perto
Preciso das tuas obviedades
Preciso das tuas meia-verdades
Preciso de teu olhar incerto
Preciso de teu assunto amigo

Preciso ouvir teu abraço
Preciso olhar nosso beijo
Preciso sentir teu pensamento
Preciso respirar o nosso momento
Preciso me achar no teu desejo
Preciso me perder no teu regaço

Preciso te ter colado assim
Preciso de tocar constantemente
Preciso da nossa realidade
Preciso não ter mais saudade
Preciso de um sonho nosso, presente
Preciso de teu poema declamado em mim
Preciso que sejamos nós!
... numa eternidade ou até o fim.

(29-07-09)

Requiem

Queria dizer tantas coisas
Externar o sofrimento
Expressar a saudade
Definir a dor
Explicar o inexplicável
Mas não há palavras
Que exprimam
Não há expressão possível
não hã verbo ou substantivo
Para esta dor horrível
E a sensação de vazio
Na alma...
Que toque a realidade
Do que se sente de verdade
Quando se perde um ente querido:
...Quando se perde uma mãe.

(Maria B. Prado * 02-10-1944 * 22-06-2009)

Silêncio

Gosto do silêncio
Da quietude
Da não invasão
Do pensamento
Por algum som
Alheio ao meu gosto
Ou um ruído
Ditado por outrem
De mau gosto

Gosto do silêncio
Da plenitude
Da concentração
Do fácil arrebatamento
Em suave tom
Por um assunto bem posto
Que pode ser diluído
Com a clareza que convém
Ao raciocínio exposto

Gosto do silêncio
Calmante
Da autocontemplação
Sem interferência
Onde se é possível
Escutar as notas
Próprias e mudas
Que compõem o lastro
Da subconsciência

Gosto do silêncio
Retumbante
Que ecoa uma emoção
Na existência
Bruta e Indivisível
De duas almas devotas
E de si mesmas desnudas
Tendo a felicidade do outro
Por única referência

Gosto do silêncio
Porque é erúdito
Porque reflete educação
Espelho da excelência
Do agregar de idéias
Do saber se portar
Do compartilhar unânime
De que o direito do outro
É do meu equânime.

(21-06-2009)

Querer Bem

Queria você por perto
Queria te dar um beijo
Queria o aconchego do teu colo
Queria sorrir com teu gracejo

Queria te olhar nos olhos
Queria das nossas conversas o tom
Queria saber dos teus assuntos
Queria da tua voz o som

Queria te abraçar demorado
Queria um gesto qualquer apaixonado
Queria curtir por horas este envolvimento

Queria te segredar amor baixinho
Queria me suprir em teu carinho
E nunca mais me ausentar deste teu acolhimento

(21-06-2009)

Suicídio

Estou cansada
Dos meus erros
Das consequências
Disto que parece imutável
De tanta frustração

Estou cansada
De minhas fraquezas
Das recorrências
Das culpas
E de seus desdobramentos

Estou cansada
Dos dissabores
Da decadência
Disto que jaz insustentável
Da não consideração

Estou cansada
Dos desencontros
De tanta ausência
Das desculpas
E de tantos aborrecimentos

Estou cansada
Desta vida
E deste gosto de morte
Que perambula possível
Na arena do pensamento
Como sina preferível
Como um golpe de sorte!

(20-06-2009)

Um sopro de Esperança

Que bem à alma traz,
Que alívio ao semblante,
Como uma luz em meio a névoa,
Como uma brisa refrescante.
Ou uma lua que clareia,
O negro mar em maré cheia
E acalma o vagalhão
De uma densa escuridão,
De um imenso silêncio abissau,
Que insiste na inquietude mental,
Destas sinapses tão carregadas
De uma tristeza declarada,
Mas que jã não encontra eco
E jaz fadado á lembrança,
Pois na panacéia misteriosa da vida,
Surge uma pequena luz colorida
Que parece a consciência cicatrizar
E o coração aos poucos reavivar,
Com um sopro de esperança!

Leito de Morte

É preciso morrer
Para se receber flores
em abundância
Para se descobrir amigos
de relevância
Para se ouvir a verdade
sem condição
Para se encarar as mentiras
em confissão.

É preciso morrer
para se dar conta da vida
tão inútil
Ou do desperdício do tempo
tão fútil;
Para que se gaste com você
em morte
O que em vida seria ganho
só na sorte.

É preciso morrer
Para que ninguém reclame
de seus caprichos
Ou ponha tuas sugestões
num lixo;
Para se ter atenção
por inteiro
E não um olhar conveniente
e traiçoeiro.

É preciso morrer
Para que as promessas
sejam cumpridas
E não meramente relevadas
ou esquecidas;
Para se ter um desejo
de pronto atendido
Ainda que este seja caro,
ousado ou atrevido.

É preciso morrer
Para se fazer o que quer
sem medo
Sem o receio de incorrer
no engano ledo
Para ser exaltado por qualidades
e virtudes
Mais do que lembrado pelas falhas
e vissicitudes.

É preciso morrer
Para que teu conselho
vire memória
E tuas sandices
fiquem na história!

(16-06-2009)

Ausência Tua

Esta Distância
Inoportuna
Que me priva
Do teu colo
Que me abstém
De teus carinhos
Que me castiga
Sem teu beijos

Esta distância
Intransigente
Que meus sonhos
Derrama ao solo
Que se interpõe
Em nosso caminhos
Que me esconde
O que mais almejo

Esta distância
Desoladora
Que se avulta
Tão intransponível
Que ironiza
Com sua persistência
O limite delicado
De nossa resistência

Esta distância
Maldita!
Há de sucumbir
Visto que é perecível,
Pois é circunstância, Finita!
Que diante da consciência
De um amor dedicado
Quebra-se o elo de sua permanência.

14-06-2009

Efeito Colateral

(Dia dos Namorados)

As tuas flores
Me põe um sorriso na alma
As cores de teus versos
Me trazem de volta à calma

O carinho do teu gesto
Me devolve à lucidez
Tua atenção sincera
Me faz acreditar outra vez...

Que o cinza também é cor
Que a força advém da dor
Que a vida está ao dispor
Que há um futuro possível com muito amor!

12-06-2009

O Terceiro Buquê

Era um buquê
O terceiro, lindo!
Em um arranjo campestre

Eram gérberas e rosas,
Em cores vivas, sorrindo!
Numa harmonia silvestre

Eram camélias delicadas
No arranjo, também, alternadas
De um branco infindo
Com verdes em tom cipestre

Era o teu amor me tocando
Mesmo à distância, me encontrando
E de carinhos me cobrindo
Num momento tão agreste.

12-06-2009
(adoro flores, elas me tocam profundamente!)

Luto

Desta vez o inverno chegou
Profundo, denso, imenso
Acompanhado de toda a sua ausência
Com abudância de lacunas, sem clemência

Desta vez a vontade se perdeu
Tácita, lacônica, monotônica
Dissolvida na palidez das esperanças
Na torrente gélida das partidas

Desta vez o inverno chegou
E com ele também veio a noite
Silente, longa e vazia
Desiludida de encontrar algum dia

Desta vez o pensamento emudeceu
Esvaiu, Cessou, Definhou
Cansado de tantas reticências
Abatido pelas feridas de tantas carências

Desta vez o inverno chegou
Soturno, apático, dramático
Como uma persistente era glacial
Recoberto por um desinteresse letal

Desta vez os sentidos feneceram
Deixando a alma esquecida
Num canto qualquer, moribunda
Como se não houvesse mais vida
Apenas um contemplar perdido
Diante de uma tristeza profunda.

10-06-2009

Mórbida Solidão

Apesar da calma aparente
E deste frio retrato
Apesar de estar silente
Como um expectador pacato
Apesar de me sentir ausente
E assim corroborar o fato...

De uma omissão imatura
Ou de uma falta de candura
Ou ainda de uma frieza mais dura

Apesar de tudo
Não sei definir ao certo
O que me acontece
O que me anestesia
O que me acomete
O que me sufoca o pranto
O que me cala o canto

Do mundo que ao meu lado cai
Da torrente que me arrasta e se vai
Do inverno que se instalou e não sai

Estou no meio do turbilhão
No roda-moinho, no vagalhão
Estou em pedaços, sem coração
Estou sem saber o que é ou não
Estou a deriva sem comunicação

Assim como que por um torpor acometida
Assim para a falta de cor arremetida
Assim, quase sem querer saber da vida!

Talvez porque já cansada esteja
Dos embates da vida, da dureza
De tantos solavancos que o coração sacoleja
Dos muitos desgastes que a alma esmoreja
Das desperanças que a vida enseja

Porque o fardo já está pesado demais
Porque as doses me tem sido letais
Porque parecem não mudar os finais

Talvez tudo jà tenha entrado no automático
De assumir uma defesa num tom apático
Porque a tristeza já não me oferece nada de enigmático
Porque não me espanta mais o sorumbático
Do tom em cinza mais enfático

Acho que me acostumei com o fel
Com o obscuro que insiste em cobrir o céu
Da realidade dura, nua e cruel

Estou sem força desta vez
Sem alguém que apóie com solidez
Sem a menor vontade ou intrepidez
Sem querer concaternar com a lucidez
Sem me importar com a insensatez.

Acho que estou das dores, vacinada
Desta solidão mórbida, calejada
De ter que apoiar no vazio, acostumada

Que o mundo caia e se desmorone
Que o raio parta e de todos me abandone
Que um tornado me leve no seu cone
Que me deixem naquilo que me consome
Que eu me esqueça até no meu nome!

Esta será minha única reação
Este regorgitar de minha autocomiseração
Destes momentos duros sem explicação

Nada mais me importa
Não quero me fiar em teoria morta
Nem escolher, pelo outro, a porta
Nem reagir à tristeza que corta
Nem buscar o que conforta

Na procura nada encontrei
Das tentativas me cansei
Dos apoios me frustei

Quero apenas viver meu luto
Assim com calma, sem pranto
Sem me importar com a regra alheia
Só, do meu jeito, em meu canto
Só, eu e meu Deus, e ponto.

(30-05-09)

Mas, e Maria?

Maria,
Se dedicou
Muito sofreu
Nada chorou

Maria,
Não se importou
Tudo ofereceu
Muito economizou

Maria,
Sempre conciliou
Pouco se aborreceu
Muito relevou

Maria,
Também planejou
E nada aconteceu
De tudo que esperou

Maria,
Que muito se envolveu
Com os outros
De si mesmo se esqueceu
Aos poucos

Maria,
Muito temeu
Pouco perdou
Sempre se escondeu
Do que a vida revelou

Maria,
Não percebia
Que no fundo
So se ressentia
Da pergunta
Que ùltima insistia
E que ùnica
Em resposta restou:
Mas, e Maria?

Maria,
Cansada de procurar
A resposta
Perdida là,
Em algum lugar
Se trancou.
Numa sala,
Num quarto
Num passado
A deriva num mar...

E Maria,
Que antes amava
Que antes vivia
Ao menos nisso
Ela insistia
Agora jà não existia.

Maria,
Da vida se cansou
Dos outros,
Da sua
De tudo que se enganou

Maria,
Das cores
Das flores
E do artesanato

Maria,
Escolheu o cinza
Tom frio e ingrato
E assim se deixou
E assim nos deixou...

(30-05-09)

Intervalo Poético

Há algum tempo
Não escrevo nada!
Nenhuma linha,
Nenhum verso,
Estou silente,
muda, calada.

Neste intervalo poético
De um tempo infindo,
De uma brisa de inverno
De uma folha caindo
Me deixei ficar
Sem muito pestanejar
Sem reagir, sem contestar

No meio do turbilhão
De tarefas
De afazeres
De novidades
De cansaços
De um rio de pedaços
De tudo e de nada!

Durante algum tempo
Aprisionei o lirismo
Deixei-o em suspense
No oscilar de um pêndulo
Quase que de castigo
Fadado ao ceticismo
Da inspiração ausente.

(23-05-09)

Materno Cinza

Qual ironia da vida,
Porque não acredito em destino,
Quis o momento
Despois de me descobrir poeta,
Que um poema ofertado
À minha mãe,
O meu primeiro,
Viesse com silhueta lúgubre
Com sombras de um derradeiro
Sendo mais uma catarse
De um debater que não se finda
De minha quase falta de lucidez
De não querer aceitar
O ter minha mãe se encontrado
Ou não, ainda
Neste seu peculiar e abissau mundo cinza.

No meu entender egoísta
(Por não entender seu tormento)
Mesmo que com alma ferida,
Ainda acho ser possível
Ver e encontrar o tino
Dos coloridos e vibrantes tons
Que se misturam teimosos
Com os cinzas e marrons
- Frustrações e Ressentimentos -
Expostos e Dilatados...
Mas ainda são cores!
Desta paleta em carrossel
E fazem da vida
Um fantástico painel
O milagre que vale a pena
Ser vivido com todo seu dilema!

(24-05-09)

Você...

Você que me faz feliz
Que me promove a graça
Que rouba sorrisos

Que me empresta o matiz
De teu afeto no que quer que me faça
De um querer bem quase sem sisos.

Você que me cobre de versos
Que me pinta em teus poemas
E me eterniza em tua alma

Que me acolhe em tons diversos
Em carinhos de várias formas
Que me escuta com toda calma.

Você que me beija com ternura
E me esculpe os desejos com suavidade
E me toca a alma com pétalas de rosas

Que segreda minhas vontades
Na brandura de teus versos
E me cinge o coração com o teu acolhimento

Você que me escuta com paciência
Que se enebria com o meu canto
E com candura me abriga em teu pensamento

Que divide comigo teus sonhos
Realizando neles o nosso encontro
Transformando a realidade rotineira em encanto

Você é o meu bem, meu amor, meu coração
Você é o tema central da minha emoção
Você é vida vivida em forma de canção!

(29-05-09)

Miau!

Gatos
Gatunos
Gaiatos
Inoportunos

Interagem
Intertidos
Intransigentes
Divertidos

Dissimulam
Disparam
Dispersos
Provocativos

Perscrutam
Perspicazes
Persistem
Audazes

Atentos
Ativos
Atacam
Certeiros

Cambalheiam
Cambalhotas
Contorcem-se
Felizes

Faceiros
Farejam
Felinas
Estripulias

Espreitam
Esperam
Espreguiçam-se
Preguiçosos

Procuram
Carinhos
Mialogando
Insistentes
Rorronando de Contentes.

(24-05-2009)

A Simples Felicidade

O raiar de um novo dia
O cheiro bom das manhãs
O ouvir um pássaro
Uma torta de maçãs.

Um carinho de bom-dia
O aroma do café
Um pãozinho quentinho
Uma oração com fé.

Uma roupa limpa
Uma vida saudável
A caminhada no parque
Um pic-nic agradável.

Uma brisa fresca no calor
Uma água gelada
O desapertar dos sapatos
O pisar na relva molhada.

Uma ligação de surpresa
Um bilhete na estante
Um almoço juntos
O rememorar de um bom instante.

Um lugarzinho só seu
Uma casa arrumada
Flores num vaso, na sala
O retrato da pessoa amada.

A chuva amena na tarde
O afago no bichano
Um arco-íris completo
Um céu todo em ciano.

Uma boa leitura
Um autógrafo do autor preferido
Um plano para o futuro
O presente decidido.

Uma boa conversa
Um trabalho bem feito
A conquista possível
Um reconhecimento aceito

Uma música bem tocada
Um restaurante diferente
Um domingo à toa
Uma viagem de repente.

O andar de mãos dadas
Uma visita querida
Uma escolha inteligente
Um brinde para saudar a vida.

Um sarau com os amigos
Uma bebida refrescante
Uma notícia boa
Uma idéia brilhante.

Um momento marcante
Uma roupa adequada
Uma noite romântica
Uma sobremesa delicada...

Momentos planejados ou inesperados
Pequenos trechos de felicidade
Para quem aceita, da vida, o milagre
De viver cada instante com intensidade!

(25/02/2009)

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

O Ponto

O ponto, assim, simplemente dito
Pode ser o começo de tudo
Ou se interpor reticente e mudo
Ou ainda ditar um limite maldito!

Pode ser que nos liberte o pensamento
Ou se porte de maneira performática
Numa sentença de pura matemática
Ou apenas encerre um grande momento.

Como um sinal gráfico
Ou num espaço - demográfico
Ou quem sabe na pauta a complicar o canto

Este elemento de tantas figurações
Com suas formas e interpretações
Será sempre um ponto. Simples. E ponto!

(23/02/2009)

Simples Coisas da Vida

Um sorriso
Uma flor
Um gesto qualquer
Que nos encha de amor...

Um olhar
Uma lembrança
Uma foto antiga
Que ponha na alma esperança...

Um cartão
Um bilhete
Um torpedo surpresa
Que provoque um suspiro em falsete...

Um olá
Um cumprimento
Um abraço com vontade
Que nos traga bom sentimento...

Um beijo
Um presente no dia
Um bombom
Que transborde o coração de alegria...

Uma oração
Um bem-querer
Um tempo compartilhado
Que renove a paz no viver...

Pequenas gentilezas
Coisas tão simples
Mas carregadas de beleza
De nobres motivos
Que trazem à vida real grandeza!

(15/02/2009)

Espera

No tempo de espera
De duração Infinita
No aguardo do que vai
Ou do que fica...

Ficamos sempre inquietos
E detonamos o arrastar
Dos minutos impacientes
De um eterno suspense.

No desenrolar dos novelos
Dos rompantes infinitos
Dos pensamentos e seu elos
Nos prendemos voluntários.

Na insuportável espera
Do desatar dos nós
De todas as duvidosas conjecturas
Ficamos penitentes

Velamos as possibilidades
Dos vislumbres futuros
E todas as conjecturas
De incertas eternidades

No transigir dos próprios limites
Do aguardo que nos agride
Ficamos de nós mesmos solitários
E de todas as injustiças, vitimados

Embolados nos novelos
Da expectativa e seus apelos
De uma imaginação constante
Nos vemos atados sem piedade.

Na busca da calma
Para não sucumbir ao desvelo
Deste tempo que maquina
Infatigável do arrastar da hora

Tentamos em alguma liberdade
de idéias ou movimentos
Nos desvencilhar do recurssivo pensamento:
Do porque esperar e não ir embora.

(12-12-2008)

Quimeras

Meus sonhos que ora
Parecem boicotados
Quase corroboram
Por um instante cético
Com a vã tradição
De que eu, talvez...
Pague por meus pecados!

Será que já não chega?
De assumir todas as consequências
De decisões funestas
De um constante adiar dos sonhos
Qual penitência
Do martírio do rememorar
Os erros e suas arestas?

As inquietudes que me consomem
Aprisionam meu lirismo.
Fazem-no refém de um certo cinismo,
De um desdêm autoflagelante.
Atiram-me por vezes no enrregelante
e abissau vácuo do silêncio.

Como um redemoinho de ventos,
Ocos, tolos pensamentos, me assaltam,
Num ciclo vicioso e me encerram,
Longe de qualquer acolhimento.
Banida por um segundo eterno
Para os desvarios de minha autocrítica e
o remoer do atual ressentimento.

Minha psique reclama
Das dicotomias nulas de sintonia
De todas estas mudanças
e recomeços... e lembranças.
Meu espírito por algum instante
Desta realidade inquietante
Se ressente e se cala. Emudece!

Mergulhada nos problemas,
No auto-caos instalado
Das vaidades desconexas,
Da realidade sem futuro,
Nos fios soltos de esperança...

Numa total dessemelhança
Com o sonhar de um futuro
Que hora parece mais lembrança
Miragem, figura de linguagem
Ou qualquer insustentável verossimilhança
De um amanhã inexistente.
Deste perpetuar do agora tão probante, insistente.

Neste estado de coisas,
Das sinapses tão carregadas, sombrias...
Mas que se retorcem vazias.
Que pintam de cinza, De escuros, de graves...
Que me atiram sem dó,
A um espaço, solitário, monástico, tão só...
Sinto-me por vezes quase sem forças
Sem qualquer ânimo.

Cansada de me debater....
Sei que não luto só,
São apenas pequenos instantes
De raros momenos de desesperança.
Para lembrar-me de minhas fraquezas,
Me arremeter de minhas autosuficiências
Para uns minutos de inexistência,
De minhas quimeras,
e suas conciências.

(01-12-2008)

Nosso Primeiro Beijo

Uma árvore, Um banquinho,
Desconfortável, É verdade.
Mas o conforto, o que é...
Quando o sentimento nos invade...

Um cenário vesperal
Num espaço atemporal.

Sob os galho acolhedores,
Duma paisagem bucólica.
Estavamo nós de amores,
Em efusão metabólica.

Verde e Céu também pressentiam
E em harmonia se uniam

À suavidade, ao encanto
De olhares e descobertas.
Das idéias e esperanças
Que se agregam mais que certas.

Tudo conspira sutilmente
E inspira fatalmente.

Para o esperado desfecho
De natural consecução.
O tão sonhado, almejado beijo
O selo cálido de nossa paixão.

Perdidos um no outro
Encontramos nosso lastro:

No toque gentil das mãos entrelaçadas
No aliciar das palmas,
No afago suave dos rostos
Que acarinham duas almas.

Os sentidos em sua alquimia,
Embevecidos desta dicotomia,

Cedem unânimes, sem refutar
E os lábios se tocam, tímidos
Se assumem e se surpreendem
De apetites brutos e vívidos

De nossa psique efervecente,
Deste toque eferente.

E nossas bocas sofregas,
Cúmplices, se entregam
E Murmúrios em sustenido,
Num refrão segredam.

O eloquente silêncio
Qual entorpecente artifício,

Nos mantém assim absortos
E pelo outro ávidos do sabor
Da orgia de nossas línguas,
De toda textura, do doce olor.

E no dilatar da hora
O perpetuar do agora.

As grandezas conjuram,
Avultam-se os sentidos.
O coração transborda
Os desejos incontidos.

Submersos nas sensações
De nossos universos em suas revelações,

Nos deixamos transportar
À este mundo onírico,
E ficamos por lá, atendendo
Aos apelos de nosso eu lírico.

Nossas bocas se presenteiam
E as línguas, soltas, o néctar anseiam.

E como cores opostas
Que se misturam justapostas,
Nossas almas enredadas
E nestas carícias algemadas,

Fazem amor...
Num primeiro Beijo.

(08-11-2008)