quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Mórbida Solidão

Apesar da calma aparente
E deste frio retrato
Apesar de estar silente
Como um expectador pacato
Apesar de me sentir ausente
E assim corroborar o fato...

De uma omissão imatura
Ou de uma falta de candura
Ou ainda de uma frieza mais dura

Apesar de tudo
Não sei definir ao certo
O que me acontece
O que me anestesia
O que me acomete
O que me sufoca o pranto
O que me cala o canto

Do mundo que ao meu lado cai
Da torrente que me arrasta e se vai
Do inverno que se instalou e não sai

Estou no meio do turbilhão
No roda-moinho, no vagalhão
Estou em pedaços, sem coração
Estou sem saber o que é ou não
Estou a deriva sem comunicação

Assim como que por um torpor acometida
Assim para a falta de cor arremetida
Assim, quase sem querer saber da vida!

Talvez porque já cansada esteja
Dos embates da vida, da dureza
De tantos solavancos que o coração sacoleja
Dos muitos desgastes que a alma esmoreja
Das desperanças que a vida enseja

Porque o fardo já está pesado demais
Porque as doses me tem sido letais
Porque parecem não mudar os finais

Talvez tudo jà tenha entrado no automático
De assumir uma defesa num tom apático
Porque a tristeza já não me oferece nada de enigmático
Porque não me espanta mais o sorumbático
Do tom em cinza mais enfático

Acho que me acostumei com o fel
Com o obscuro que insiste em cobrir o céu
Da realidade dura, nua e cruel

Estou sem força desta vez
Sem alguém que apóie com solidez
Sem a menor vontade ou intrepidez
Sem querer concaternar com a lucidez
Sem me importar com a insensatez.

Acho que estou das dores, vacinada
Desta solidão mórbida, calejada
De ter que apoiar no vazio, acostumada

Que o mundo caia e se desmorone
Que o raio parta e de todos me abandone
Que um tornado me leve no seu cone
Que me deixem naquilo que me consome
Que eu me esqueça até no meu nome!

Esta será minha única reação
Este regorgitar de minha autocomiseração
Destes momentos duros sem explicação

Nada mais me importa
Não quero me fiar em teoria morta
Nem escolher, pelo outro, a porta
Nem reagir à tristeza que corta
Nem buscar o que conforta

Na procura nada encontrei
Das tentativas me cansei
Dos apoios me frustei

Quero apenas viver meu luto
Assim com calma, sem pranto
Sem me importar com a regra alheia
Só, do meu jeito, em meu canto
Só, eu e meu Deus, e ponto.

(30-05-09)

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